Ligar a cidade de Leiria a Finisterra (Espanha) de bicicleta e em autonomia.
Após 365 dias, volto a rumar a Santiago de Compostela. Desta vez juntei-me a sete amigos da Airbike – Associação de Ciclismo para ligar a cidade do Lis (Leiria) a Finisterra (Espanha) em autonomia total.
A viagem estava planeada há muito tempo, alguns dos colegas chegaram mesmo a visitar alguns locais em dezembro de 2015. No passado dia 22 de maio (2016), feriado municipal em Leiria, partimos para mais uma peregrinação a Santiago de Compostela, terminando no cabo na província da Corunha.
Este foi o diário de viagem:
1º DIAETAPA IPartida: Leiria
Chegada: Mealhada
Distância: 122 Km
O ponto de encontro para a partida foi a esquadra da PSP em Leiria. Um a um, lá foram chegando os oito: Agostinho Duarte, Paulo Santos, José Mendes, Luís Bibi, Luís Cunha, Ricardo Vieira, Duarte Lourenço e Filipe Bagagem.
Por volta das 8h15 e após o “café da praxe” lá partimos com uma grande satisfação por a viagem ter começado.
Já perto de Ansião entramos no Caminho Português Central de Santiago e com a indicação das setas amarelas, presentes ao longo de todo o caminho, seguimos em direção ao Rabaçal pela via romana (Ribeira de Baixo) onde observamos as ruínas do Castelo do Germanelo (mandado erguer por D. Afonso Henriques em 1142) e entrámos no Rabaçal, onde almoçámos numa esplanada com algum “vento”.
Com passagem pela antiga cidade romana de Conímbriga e convento de Santa Clara, entrámos em Coimbra para mais uma paragem. Depois da igreja de Santiago (Séc. XII) seguimos o nosso caminho passando pela porta da estação de Caminhos de Ferro em direção a Trouxemil, Santa Luzia e Mealhada onde pernoitámos. Como nem só o pedalar nos satifaz e como estávamos na Bairrada, o jantar foi leitão regado com espumante tinto da região.”
2º DIAETAPA IIPartida: Mealhada
Chegada: Porto
Distância: 104 Km
Partimos às 8h29 em direção à Anadia, passando por Alpalhão e Aguim. Águeda, Mourisca do Vouga, Albergaria A Velha, Albergaria A Nova e Pinheiro da Bemposta com paragem para almoço. Entrámos na Bemposta e seguimos por Besteiros, passámos pela antiga ponte do Sr. da Ponte.
Continuámos por Oliveira de Azeméis em direção a Cucujães passando pela ponte do Salgueiro seguimos para a Arrifana onde passámos pela Capela da Senhora do Ó.
Na Malaposta e percorrendo a antiga calçada romana (Estrada Real) seguimos por Lourosa, Grijó (antigo mosteiro de Grijó Séc. XIII) e Perosinho. Atravessámos a Serra dos Negrelos pela calçada do antigo caminho até Rechousa com a bicicleta à mão, em muitas partes desta calçada. Tornou-se ainda mais penoso para quem levava alforges em vez de mochila mas lá prosseguimos para o Porto para concluirmos mais uma etapa. Ficamos num hostel onde pudemos lavar a roupa e secar a bom preço (16€ dormida com pequeno almoço incluído). Ao jantar tivemos umas excelentes sandes de carne assada e queijo na Casa Guedes.”
3º DIAETAPA IIIPartida: Porto
Chegada: A Guarda
Distância: 141 Km
Com saída às 8h16 este viria a ser o dia mais longo, pois surgiram diversos percalços desde o início. A ideia era na Sé do Porto ir até à Ribeira para seguirmos o Caminho Português da Costa (derivação do Caminho Português Central como uma alternativa de ligação à Galiza). Mas acabamos por ir até à Torre dos Clérigos e aí enganamos-se seguindo o Caminho Central. Após alguns quilómetros, e debaixo de chuva, tivemos o primeiro problema técnico, um furo que demorámos muito tempo a resolver. Como o tempo não ajudava, surgiu “aquela” vontade de ligar à mulher para ir para o conforto do lar. Mas depressa passou e resolvemos voltar para trás para seguir o Caminho Português da Costa desde o Porto. Este Caminho acompanha o Atlântico e as suas belas praias passando por muitos passadiços de madeira sobre as dunas. De Matosinhos seguimos para Vila do Conde, Póvoa de Varzim e Apúlia onde parámos para almoçar no restaurante Adega do Agostinho. Mais uma vez perdemos demasiado tempo mas saímos muito satisfeitos e “contentes”.
Já no concelho de Esposende passámos por uma bonita área florestal em direção a Castelo do Neiva e a caminho de Viana do Castelo. Passagem por mais uma calçada antiga que proliferam neste caminho, originando um natural apear mesmo para quem levava mochila (com alforges fica-se com mais tração, foi uma das teorias ouvidas).
Pretendíamos em Caminha passar o rio Minho via ferry para A Guarda, mas como chegamos depois das 19 horas já não havia barco e tivemos de fazer mais 32 km de bicicleta, por estrada, para passar o rio na ponte em Vila Nova de Cerveira. Os quilómetros deram “mossa” e houve alguns elementos que terminaram esta etapa com um belo empeno, e outro com lesões no joelho, o que nos deixou preocupados.”
Parte I
Parte II
4º DIAETAPA IVPartida: A Guarda
Chegada: Combarro
Distância: 107 Km
Os joelhos apresentavam melhorias e quando eram 8h15 atravessámos a cidade em direção às praias da região. Passagem por Portecelo e Val da Aguieira e junto à capela de São Sebastião iniciámos a abordagem para Oia que, com o seu impressionante mosteiro de Santa Maria de Oia, dá o nome à rota “Camino Monacal”. Continuando entre praias, falésias e campos cultivados seguimos em direção a Baiona.
Por entre bosques e pequenas aldeias aproximava-se a cidade de Vigo. Passagem pela praça de Santa Rita e saindo da cidade, continuamos perto de um riacho que seria o nosso guia até chegarmos a Cidadelle. Subida para o Alto da Encarnacion onde se pode admirar o rio e Ponte de Rande. Descida para Redondela onde houve a junção com o Caminho Português Central. Aqui notava-se um aumento de peregrinos no Caminho até Pontevedra pois o percurso é coincidente.
Passagem pelo centro histórico de Pontevedra através da cidade velha até à milenária ponte de O Burgo sobre o rio Lérez. Nas imediações da cidade, o local da bifurcação do Caminho Português e da Variante Espiritual do Salnés por onde seguimos em direção a Combarro. Antes da chegada a Combarro passagem por o imponente Mosteiro de São João de Poio onde parámos para mais umas fotos.”
5º DIAETAPA VPartida: Combarro
Chegada: Santiago de Compostela
Distância: 95 Km
Deixámos Combarro por volta das 8h30 a caminho de Armenteira, pedalando por uma “dura” subida em asfalto durante 6 km para depois descermos em estradão de terra até ao Mosteiro de Santa Maria de Armenteira “O Berce do Salnés” com paragem no bar O Comercio.
20160526_102139Seguiu-se um deslumbrante percurso: a rota da Pedra e da Água, ao longo do rio Armenteira, envolto por vegetação densa. A partir de Ribadumia e até Vilanova de Arousa, o percurso foi efetuado a um bom ritmo pela rota do rio Umia. Seguiu-se um percurso rolante por vezes em passadiços de madeira até Padron com mais uma paragem. Com passagem pelo Santuário de Esclavitude (6 km depois de Padron), um grande edifício que demorou quase 3 séculos a construir e que oferece água considerada milagrosa aos peregrinos, os últimos quilómetros foram feitos a elevada velocidade até à mítica praça do Obradoiro.
Chegámos!
Foi um momento em que ficámos sem palavras, damos um abraço aos amigos de viagem, tiramos fotografias e contemplamos a Catedral.
Entregámos as credenciais de peregrinos e enquanto esperávamos pela Compostela (uma hora atribuída para grupos) fomos abraçar o santo.”
6º DIAETAPA VIPartida: Santiago de Compostela
Chegada: Finisterra
Distância: 89 Km
Saída às 8h25 de Santiago para a última jornada. Este itinerário é considerado o epílogo da rota Jacobea que pode terminar em Fisterra ou em Muxia. Passagem por Ponte Maceira, uma maravilhosa e enorme ponte medieval, das mais bonitas do caminho.
Seguiu-se Negreira e Olveiroa onde acabámos por almoçar. Estes primeiros 49 km foram bonitos pelos trilhos mas também difíceis devido ao constante sobe e desce. Mas o pior estava para vir. Mais um problema mecânico solucionado debaixo de chuva intensa e frio que acabou por nos regelar. Após uma descida em que as mãos ficaram dormentes, a paragem num café para beber um chá quente foi muito reconfortante. Em A Picota deu-se a divisão para Finisterra à esquerda, do caminho da direita para Muxia (onde ocorreu um grande desastre ambiental em novembro de 2002, com o derrame de 77 mil toneladas de óleo pelo petroleiro grego Prestige).
Seguimos para Cee, Concubión até Finisterra. Aqui iniciámos a última subida em asfalto com cerca de 2 km em grande ritmo até ao km 0,00 junto ao farol “Faro de Finisterre”. Este final frente à mítica Costa da Morte deu-nos uma alegria imensa de missão cumprida.
Após umas fotos, iniciámos a descida para o hotel para um merecido banho quente. Já no restaurante, esperámos pela Sofia Marcelino que efetuou a viagem de Leiria a Finisterra sozinha, para nos levar de volta a casa numa carrinha disponibilizada pela Gaip (nosso apoiante há diversos anos em eventos).
Foram seis dias de puro BTT, com um total de 51 horas a pedalar, 658 km percorridos com um acumulado de 9.140 metros.
Se foi duro, foi (que o diga um dos elementos a pedalar só com uma perna, lesão no joelho). Mas vale muito a pena fazer estes caminhos com um grupo de amigos magníficos.
Não há glória sem dor.
Bom caminho.”
TTOTAISDistância: 655 Km
Duração: 6 Dias
Subida acumulada: 9.100 metros
Autoria: Ricardo Vieira